As curtas memórias contigo.

   Tudo o que sei sobre o meu bisavô foi-me contado por familiares e pessoas próximas ao longo dos anos, achava sinceramente que na minha cabeça ele tinha sido mais que o retrato que pintaram dele, senti que nunca ninguém se dignou a conhecê-lo verdadeiramente, ninguém parou para escutar as suas histórias de vida, foram-me passadas apenas pequenas histórias já da sua velhice e ficou sempre a curiosidade de saber quem foi, o que ele fez, se viveu um grande amor...
   Ele faleceu quando eu tinha cinco anos e durante alguns anos recordava-me bastante do rosto dele, mas com o passar do tempo a imagem foi-se desvanecendo e hoje restam-me apenas as primeiras e últimas memórias que tenho dele, lembro-me do cabelo branco, de estar muitas vezes ao colo dele o que trazia-me uma certa tranquilidade, lembro-me de ver o cachimbo e ficar fascinado com esse objecto sem saber claramente para o que servia e recordo-me do cheiro dos cozinhados da minha avó sobretudo quando fazia um dos pratos preferidos dele e que eu também adoro, favas com chouriço, alho francês e batata.
   Durante muitos anos a minha avó criou a bonita ideia na minha cabeça que ele era o meu anjo da guarda e que estava no céu a proteger-me, todos os anos levava-me ao cemitério para zelar a campa dele, levando um arranjo de flores que eu ajudava-a a fazer e poucas foram as vezes ou os locais que transmitiram-me tanta paz como aquele.

Miss Margot

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